(Por Carolina Pereira – PPGEB-CAp-UERJ; Lorena, Valentina – turma 2D, CAp-UERJ)
Maxwell Alexandre nasceu em 1990 na cidade do Rio de Janeiro. Foi nascido e criado na favela da Rocinha, Zona Sul da cidade.
Antes de se tornar artista visual, chegou a servir ao exército e também fora patinador de Street dance.
Em 2016, formou-se pela PUC-Rio em Design. Seu ateliê, onde trabalha com arte, encontra-se ainda na Rocinha.
Sua arte tem como principal linguagem a pintura, porém seus trabalhos também advêm na videoarte, fotografia, música, instalação e performance.
Criado em berço evangélico, Maxwell Alexandre discute muito a religiosidade nos seus trabalhos artísticos. Um de seus trabalhos mais famosos, por exemplo, é intitulado como “O Batismo de Maxwell Alexandre” (figura 2), por ocasião de exposição homônima. Nesta performance, o artista mergulha numa banheira com água simulando então um batismo das religiões cristãs. Segundo o próprio artista diz numa entrevista,
Fé e obra devem caminhar juntos, uma em detrimento da outra não funciona. Dentro desse sistema religioso me ensinaram também que a oração é um segredo pra prosperar, comunicar e receber coisas de Deus. Quando me vi em artes precisei rever tudo isso que havia escutado e incorporado. Ao desconstruir o evangelho que me ensinou, deixei de usar a linguagem verbal como um meio para me conectar com Deus. Então, encontrei na pintura um caminho legítimo para agradecer, falar e conhecer a mim mesmo. Minhas pinturas são orações, visões e profecias. Assim como em casas pentecostais onde fiéis oram aos berros, expondo sua intimidade, minha prática artística se apresenta ao mundo também como uma prece aberta/pública. (2018).
Já para sua pintura, utiliza diferentes suportes, até mesmo os mais inusitados, como lonas de piscina (figura 3), portas de madeira, esquadrias de ferro e papéis considerados não tão “nobres” para as Artes (figura 4).
Em suas obras, o artista retrata diferentes momentos do cotidiano das favelas cariocas, através de figuras anônimas. Dentro de tal cotidiano, apresentam-se cenas de confronto com a polícia, celebrações, empoderamento negro e relações comunitárias contemporâneas (figura 5). Levando à reflexão não somente do que acontece na favela da Rocinha, mas como em todas as demais comunidades cariocas.
Em 2018, participou das coletivas “Recortes da Arte Brasileira”, na Berlin Art Fair, “Crônicas urgentes”, na Fortes D’Aloia & Gabriel (São Paulo), e “Abre alas 14”, n’A Gentil Carioca (Rio de Janeiro), e apresentou sua primeira individual “O batismo de Maxwell Alexandre”, também n’A Gentil. Foi neste mesmo ano que o artista integrou a premiada exposição “Histórias afro-atlânticas”, no MASP. Foi indicado ao prêmio Pipa em 2019 e 2020, sendo finalista no último ano.
Também foi em 2019 que o artista teve uma exposição individual no Museu de Arte do Rio (MAR) intitulada “Pardo é papel” (figuras 6, 7 e 8), na qual Maxwell Alexandre aborda temas como raça, vida nas favelas, violência policial e desigualdade social. Nesta exposição, na qual as pinturas são feitas sobre papel pardo, discute-se as questões sobre raça e sociedade não apenas pelos temas da pintura como também pela matéria. Afinal, a palavra “pardo” foi por muitos anos utilizada para apagar a negritude das pessoas negras. Por ocasião da exposição, Campos e Gradim (2018), dizem:
Porém, aqui, o pardo é ressignificado pelo artista, nos levando a outras direções. Ao produzir autorretratos sobre papel pardo, MW (assinatura do artista) passa a perceber que estava, também, diante de um ato político: pintar corpos negros sobre papel pardo. Os estigmas são assumidos e revertidos. A cor da pele negra, confundida com a cor do papel, retorna como condição de resistência, como reação: “pardo é papel”. Congregam-se, assim, arte e cultura, forma e subjetividade. (CAMPOS, Marcelo e GRADIM, Carlos, 2018).
Cabe destacar aqui uma das ações ocorridas durante a exposição: a “Descoloração Global Pré-Carnaval” (figura 9). Tal ação ocorreu nos pilotis do MAR e descoloriu o cabelo de mais de 120 pessoas. Esta ação foi tomada como culto de ação de Graças da Igreja da Noiva, a Igreja do Reino da Arte. Tal prática de descolorir o cabelo para o carnaval é recorrente nos subúrbios e favelas cariocas.
Embora ainda seja um artista jovem, Maxwell Alexandre prova, através de sua arte, grande potência ao discutir temas acerca da identidade-representatividade hoje.
Referências
https://www.sp-arte.com/artistas/maxwell-alexandre/
http://www.canalcontemporaneo.art.br/blog/archives/008441.html