Mapa visual Cotidiano do subúrbio
(Pesquisa Gabrielly de Carvalho, bolsista Extensão)
O trabalho de Davi Baltar, como o de outros grafiteiros, vai além da estética. Seus murais muitas vezes têm um componente social, resgatando memórias coletivas e denunciando desigualdades. Essa função de cronista visual também é presente na obra de Heitor dos Prazeres que registrou com poesia as vivências de uma população que muitas vezes não encontrava espaço nas narrativas oficiais da arte.
Baltar utiliza o grafite como uma ferramenta de inclusão, levando a arte diretamente para as ruas e tornando-a acessível a todos. Seus murais, espalhados pelos espaços públicos, reforçam a ideia de que a arte deve ser para todos e que a vida cotidiana merece ser representada e celebrada.
Uma conexão clara entre Heitor dos Prazeres e Davi Baltar está no uso das cores e na escolha de temáticas que celebram o povo. Enquanto Heitor usava tons vibrantes para dar vida às suas telas e exaltar o samba como uma expressão cultural central, Baltar utiliza uma paleta rica para criar murais que capturam a alma das ruas, com elementos que dialogam diretamente com quem vive na cidade. Seus grafites, como as obras de Heitor, convidam o observador a reconhecer e valorizar o que há de belo no cotidiano.
O artista, assim como Heitor dos Prazeres, trouxe a realidade das comunidades periféricas para o universo artístico. O diálogo entre Davi Baltar, demais grafiteiros e Heitor dos Prazeres nos lembra da importância de preservar a cultura local e exaltar as histórias das comunidades. Mesmo com as diferenças de tempo e suporte, os artistas compartilham o mesmo princípio de dar visibilidade ao que é genuíno e autêntico, transformando o cotidiano em arte e mostrando que há beleza, riqueza e significado na vida de cada pessoa retratada. Assim, suas obras se tornam não apenas um reflexo de suas épocas, mas um legado que inspira novas gerações de artistas e observadores.
No contexto contemporâneo, a arte do grafite surge como uma linguagem visual que também dá voz às comunidades urbanas, muitas vezes marginalizadas. Os muros e fachadas das cidades tornaram-se telas para artistas de rua que, assim como os artistas citados, encontram no cotidiano uma fonte de inspiração. Os grafites frequentemente retratam a vida de trabalhadores como crianças brincando, festas de bairro e até mesmo cenas de protesto, promovendo reflexões sobre questões sociais e culturais. Ao mesmo tempo que há a celebração da cultura popular, a arte desafia a invisibilidade das realidades periféricas.
O uso das cores nos grafites e nas obras de Heitor dos Prazeres é um elemento em comum que merece destaque. Em ambos os casos, as paletas vibrantes expressam a vitalidade da vida urbana e a resiliência das comunidades retratadas. Para Heitor, as cores traduzem a alegria do samba e da festa, enquanto no grafite, elas muitas vezes servem para destacar mensagens de resistência, identidade e pertencimento. Essa escolha estética cria uma ponte emocional entre a obra e o público, que se reconhece nos cenários e personagens representados.
Outro ponto de conexão entre Heitor dos Prazeres e os artistas de grafite é a democratização da arte. Enquanto Heitor buscava representar pessoas comuns e suas vivências, os grafiteiros levam a arte para os espaços públicos, acessíveis a todos, rompendo as barreiras dos museus e galerias tradicionais. Essa acessibilidade reforça a ideia de que a arte deve dialogar com as massas e que a vida cotidiana, com todas as suas complexidades, é digna de ser celebrada.
Tanto Heitor dos Prazeres quanto os grafiteiros contemporâneos desempenham um papel importante na preservação e valorização das culturas locais. Suas obras não apenas registram, mas também exaltam a riqueza cultural das comunidades onde atuam. Essas expressões artísticas se tornam fundamentais para manter viva a memória e a identidade de povos que, muitas vezes, são apagados pelos discursos hegemônicos. Dessa forma, as pinturas de Heitor e os grafites atuais se encontram em uma linha do tempo que conecta o passado e o presente, reafirmando a importância da arte como um espelho da sociedade.
Heitor dos Prazeres, os grafites contemporâneos e o trabalho de Davi Baltar, grafiteiro de Niterói, formam um elo artístico que celebra a vida cotidiana e resgata a identidade cultural das comunidades urbanas. Cada um desses artistas, em seu contexto e linguagem, transforma elementos do dia a dia em obras de arte que falam diretamente ao público, valorizando histórias, personagens e cenários muitas vezes invisibilizados pela sociedade. Davi Baltar utiliza o grafite para retratar cenas do cotidiano e explorar a identidade cultural de Niterói e de outras regiões onde atua. Seus murais transformam os muros da cidade em espaços que narram histórias, muitas vezes homenageando figuras locais, tradições e a riqueza cultural brasileira.
Referências
Caderno CCBB Educativo: Heitor dos Prazeres é meu nome. Centro Cultural do Banco do
Brasil (2023). Disponível em: https://ccbb.com.br/wpcontent/uploads/2023/11/heitor_dos_prazeres_web-1.pdf Acesso em: 20/12/2024.
Davi Baltar (2023). Disponível em: https://www.davibaltar.com Acesso em: 20/12/2024
@davi.baltar