(texto originalmente publicado em ARCURI, Christiane. Nuno Ramos – narrativas visuais. Rio de Janeiro: Ed. Multifoco, 2015 – fruto Tese de Doutorado “A arte de Nuno Ramos: um relevo na estética da contemporaneidade”, UFF, 2014).
Nuno Ramos e um resumo de sua trajetória
Nuno Álvares Pessoa de Almeida Ramos (São Paulo, 1960) cursou filosofia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – FFLCH/USP, de 1978 a 1982. Trabalhou como editor das revistas Almanaque-80 e Kataloki, entre 1980 e 1981.
No campo da Literatura, Nuno Ramos, como é conhecido, vem publicando alguns livros nos últimos anos, tais como: Cujo (1993); O Pão do Corvo (2001), Editora 34 (ficção); Ensaio Geral (2007), Editora Globo (ensaios e memórias registradas desde o ano de 1994); Ó (2008), vencedor do Prêmio Telecom de Portugal no ano de 2009; O Mau Vidraceiro (2010), Editora Globo (com contos de Baudelaire); Junco (2011), Editora Iluminuras (poesia de Drummond) e que recebeu o Prêmio Telecom de Portugal em 2012.
Nuno Ramos inicia suas pesquisas artísticas nos anos oitenta. Como artista visual, Nuno começa a pintar em 1983, quando funda o ateliê Casa 7, com Paulo Monteiro (1961), Rodrigo Andrade (1962), Carlito Carvalhosa (1961) e Fábio Miguez (1962). Sua vasta produção apresenta-nos, desde então, configurações estéticas com inúmeros materiais e em muitos suportes, tais como: Quadros/Pinturas, Desenhos, Instalações, Esculturas, Intervenções Urbanas, Música, e, ainda, Cinema e Vídeo.
Como artista visual, Nuno Ramos tem exposto regularmente em muitas cidades do Brasil – participando, inclusive, das Bienais Internacionais de São Paulo nos anos de 1985, 1989, 1994 e 2010. Na década de 1990, desenvolve suas primeiras instalações, dispondo esculturas, imagens fotográficas, textos e outros objetos de materiais distintos no mesmo espaço.
Nuno Ramos em entrevista citada em O livro das palavras: conversas com os vencedores do Prêmio Portugal Telecom (CASTELLO, 2013, p. 46), diz que o que lhe “atraiu nas artes visuais foi o modo físico das coisas fora de mim […] e uma disjunção meio forte […] – aquela entre sentido e matéria. Tento fazer com que os dois se aproximem, mais radicalmente e até o fim […]”.
Suas obras mais conhecidas são: Mácula (1994); Craca (1995); Para Goeldi (1996); Manorá Branco (1997); Minuano (2000); Morte das Casas (2004); Que (2004); Vai Vai (2006); Mar Morto (2008); Bandeira Branca (2010); Globo da morte de tudo (2012); Hora da razão (2014). Nesta mesma entrevista (CASTELLO, p. 48), citada acima, o artista caracteriza o seu trabalho como o resultado de suas “indecisões, atrapalhamentos, tentativas, identificações súbitas, impulsos, uso de recursos que não estavam previstos no desenvolvimento anterior do trabalho”.
Fora do Brasil, Nuno Ramos já expôs nos seguintes locais: Gallery 32, em Londres, Inglaterra; na Galeria Bernardo Marques, Lisboa, Portugal; na 46ª Bienal de Veneza, Itália; na Brooke Alexander Art Gallery, Nova York, EUA; no Centro de Estudos Brasileiros, Assunção, Paraguai; no Museum of Comtemporary Art, San Diego, EUA; no Museu de Arte de Porto Rico, em Porto Rico; no Chicago Cultural Center, Chicago, EUA; em Atarazanas, Valência, Espanha; no Forth Worth Museum of Modern Art, São Francisco, EUA; no Museum of Modern Art, Walker Art Center, Mineápolis, EUA; em Sevilha, Espanha (Latin American Artists of the 20th Century); no Centre Pompidou, Paris, França; na Colônia, Alemanha; no MOMA – Museum of Modern Art, Nova York, EUA; no Museum Morsbraich, Leverkusen; Sprengel Museum Hannover, Hannover e Galeria Landergirokasse, Stuttgart (os três últimos na Alemanha); no Musée de La Ville de Paris, França; em Havana, Cuba (na 2ª Bienal de La Habana).
Nuno Ramos também já recebeu alguns prêmios internacionais no campo das Artes Visuais. Em 2006, recebe o Grant Award – The Barnett and Annalee Newman Foundation, nos USA e também o 2º Prêmio Bravo! Prime de Cultura, Artes Plásticas – Exposição; além do Prêmio Mário Pedrosa – ABCA – Associação Brasileira de Críticos de Arte. Em 2000, vence o concurso El Olimpo – Parque de La Memória, para a construção, em Buenos Aires, de um monumento em memória aos desaparecidos durante a ditadura militar argentina. Recebe a Bolsa da Fundação Vitae (Apoio à Cultura, Educação e Bem Estar Social) e o Prêmio da Associação Nacional de Críticos de Arte, em 1994; em 1990, o Prêmio Brasília de Artes Plásticas; em 1987, obtém a 1ª Bolsa Émile Eddé de Artes Plásticas do MAC/USP; em 1986, a Painting Prize, 6th New Delhi Triennial, na Índia; em 1985, é o 1º lugar do Ranking Playboy de Novos Talentos e, em 1984, recebe os seguintes prêmios: o Aquisição, o do II Salão Paulista de Arte Contemporânea, o Prêmio Viagem ao Exterior e o VII Salão Nacional de Artes Plásticas. Suas obras somam a acervos públicos / instituições e também nos seguintes acervos particulares: MAC-SP, João Carlos de Figueiredo Ferraz, Racional Engenharia S.A., Marcantônio Vilaça, MAM-Brasília e de Porto Alegre, Marcelo Orsini, Sérgio Sister, Raquel Arnaud, Chico Stefanovitz, Raymond Louis Rebetez, Escola Panamericana de Arte, Kim Esteves, João Carlos de Figueiredo Ferraz, José Zaragoza, Charles Cosac e Gilberto Chateaubriand.
Como cineasta, Nuno Ramos roteiriza e dirige, com Climachauska, em 2002, os curtas-metragens Luz negra (Para Nelson 1) e Duas horas (Para Nelson 1). Em 2004, é a vez do curta Alvorada e do curta Casco. Com Gustavo Moura e, ainda, com Climachauska, Iluminai os terreiros é o curta que dirige em 2006.
Como outras atividades, em 1989, Nuno Ramos fez a ilustração do livro Poros, de Rubens Rodrigues Torres Filho; em 1990, é co-editor da Coleção Goeldi. Ainda no mesmo ano, publica os livros Paulo Monteiro Desenhos e Amílcar de Castro; em 1992, ilustra o número 22 da Revista IDE; em 1994, realiza o cenário do show Nome, de Arnaldo Antunes; em 1995, faz o cenário do show Ninguém, também de Arnaldo Antunes e a Curadoria (com Fábio Miguez e Paulo Pasta) da exposição Noite Morta – Bandeira e Goeldi.
Na obra de Nuno Ramos as linguagens visual e literária (e vice-versa) complementam-se, como mesmo diz:
“Quando trabalho em artes plásticas, muitas palavras ou frases me vêm à cabeça, e isso adianta demais, tem uma força de arrasto incrivelmente rica para o trabalho. Mas talvez nem apareça muito para o espectador. […] O fato de achar um nome, de me lembrar de um verso, de querer dar uma lidinha em alguma coisa de que me lembro, ajuda demais – parece que solta a imaginação a acaba puxando o resto. Talvez o mesmo aconteça de lá para cá [das artes para a literatura], mas sempre numa região pouco formatada”. (CASTELLO, 2013, p. 45).
Referências
https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa2459/nuno-ramos