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Artistas em pesquisa

Rafael BQUEER

(por Vicente Rocha)

Rafael Bqueer.

Biografia do artista

Bqueer nasceu em Belém, PA, em 1992.

Com graduação (em Licenciatura e Bacharelado) no curso de Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará (UFPA), atualmente, divide sua rotina de trabalho entre Rio e São Paulo.

Atua de forma transdisciplinar com vivências entre a Moda, escolas de samba e arte contemporânea. O artista tem um trabalho que dialoga também com Vídeo e Fotografia, utilizando-se de sátiras do universo pop para construir críticas atentas às questões da contemporaneidade.

As práticas performáticas de Rafael Bqueer partem de investigações sobre arte política, gênero, sexualidade, afrofuturismo, decolonialidade, interseccionalidades e ativista LGBTQI+.

Sua relação e produção com a arte iniciou-se na cidade de Belém. Por volta dos 12 anos, já criava suas próprias roupas e fantasias, e pode-se se dizer que sua primeira grande paixão fora a Moda e toda a performacidade voltada ao feminino. Chegou a participar de um concurso virtual de desenhos e fantasias, ainda na época da antiga rede social chamada Orkut. Seu interesse pela área aflorou, e não parou por aí. Ainda muito cedo, participou de um concurso chamado “Rainha das rainhas do carnaval paraense”, onde daí começou a unir de fato sua paixão pela Moda e pelo carnaval.  Aos 14 anos, a convite de um dos jurados do concurso, foi selecionado para trabalhar como seu assistente e, desde então, começou uma jornada nas produções carnavalescas, em Belém. Após toda essa experiência com o desenho, a Moda e o carnaval de Belém, Bqueer decidiu partir para o ramo das Artes Visuais.

Porém, essa experiência lhe trouxe o saber de trabalhar com poucos materiais para, ainda assim, entregar um bom resultado ao público. Em 2011, ingressou no curso de bacharel e licenciatura em Artes Visuais, porém, desmotivado pela família, deu continuidade à faculdade no Rio de Janeiro. Através de um intercâmbio na Escola de Belas Artes, conheceu outras faces da cultura carnavalesca.

Com grande interesse em fotografia de paisagem, Bqueer sempre teve como foco principal quebrar o estigma de imagens já “estereotipadas” da região Amazônica – como mesmo diz: “Apesar de existirem poucos museus e galerias de arte em Belém, essas ainda são de pouco acesso para jovens artistas da periferia”.  Logo, a rua e a floresta tornaram-se seu ambiente performático em fotografias e vídeos produzidos na sua trajetória artística.

Ao chegar no Rio, percebeu que seria necessário dialogar com os espaços institucionalizados assim como com os meios acadêmicos. Sendo preto, e vivendo no subúrbio, já sabia de antemão que enfrentaria muitos obstáculos (dentro e fora da academia).

A violência exacerbada contra o corpo negro ficou mais evidente ao chegar no Rio. Aqui, pôde trabalhar em grandes barracões de escolas de samba, como com a comunidade do Santa Marta. Em 2013, trabalhou como assistente do carnavalesco da escoa carioca Império Serrano, que estava desenvolvendo uma temática sobre a cidade de Angra dos Reis.

Vale ressaltar que o artista também trabalhou no Museu de Arte do Rio, como monitor do educativo. Também já havia, desde o Pará, trabalhado em um museu no setor de arte e educação. Devido à instabilidade financeira do mercado carnavalesco e com o fim de sua bolsa de pesquisa, o artista se viu na necessidade de trabalhar em espaços de arte-educação, e por conta disso fora trabalhar no Museu de Arte do Rio, no setor educativo, e concomitantemente adentrou a escola de Artes Visuais do Parque Lage, aprimorando assim, seus estudos em performances.

Principais obras

Dentre seus trabalhos, “Alice” é um dos mais emblemáticos. Nele, há uma crítica política ao Brasil, suas desigualdades e a pauta gira em torno do tema “O que é uma cidade MARAVILHOSA?” Esta obra ocorreu em tempos de pré-Copa do mundo e Olimpíadas (figura 2).

Fig. 2 – “Alice” (2014).

Jorge Lafon, a icônica Vera Verão, também fora uma de suas grandes inspirações. Começou pelos trabalhos pautados em questões raciais e de gênero. A primeira ação da performance “Alice” fora descendo e subindo o morro Santa Marta (figura 3), onde, a partir dali, já notara a potência de tal performance.

Fig. 3 – “Alice” – morro Santa Marta (2014).

Tal performance também fora repetida outras vezes, dentre elas, na Central do Brasil (Figura 4). “Perguntaram se eu estava vestida de empregada doméstica”, disse o artista na entrevista, se referindo ao fato de ser um corpo preto usando um vestido branco, que, de longe, pode ou não remeter à um vestuário de uma secretária do lar. Mas, obviamente, tal comentário fora respaldado em um puro racismo estrutural.

Fig. 4 – “Alice” – na Central do Brasil, RJ (2014).

Bqueer ouvira pela primeira vez a expressão “Arte queer”, no Parque Lage. Em sua mente, começou a maquinar fantasias, indumentárias e roupas que dialogassem com suas ideias, agora já mais consistentes e direcionadas às críticas sociais. Para o artista, a roupa complementa a performance, e por isso a importância de pensar e repensar em como produzi-la. A pauta política de sua obra artística busca criar zonas de conflitos identitários, semiológicos e estéticos. O incômodo gera o pensar, o refletir e a mudança – e nisso a artista Bqueer põe em prática de forma potente e visceral.

“EU CRIO CONFLITOS ESTÉTICOS”, diz Bqueer.

 Com o tempo, percebera que não podia ser um artista de um trabalho só, mas era muito mais que isso. Suas ideias borbulhavam e seu desejo de mostrar uma arte política e, ao mesmo tempo, alegórica, fervia em sua mente. Referências à cultura drag também começaram a fundir suas obras e, hoje, sente a importância de adentrar ambientes brancos elitistas cariocas para justamente mostrar todo potencial vindo da periferia de Belém. Rafael Bqueer, de fato, caminha por entre esses dois mundos: a arte de rua, nua e crua (figura 5); e, o cubo branco do espaço institucionalizado – clean e estetizado -, porém, sem nunca perder sua essência e objetivos.

Fig. 5 – “Alice” – em Belém, PA (2014).

Bqueer traz consigo todo potencial de um artista jovem, com ideias de afronte ao sistema de Arte e que incomode àqueles que pensam que a Arte deve ficar apenas num cubo branco – como enfatizou numa individual na Galeria Cândido Portinari, UERJ, onde performou com outros artistas vestido de Ranger Rosa (figura 6).

Fig. 6 – “Ranger Rosa” .

Outro destaque semelhante ocorreu em 2019 quando expôs seu trabalho “O Legado de Rosa Magalhães (Figura 7) sobre questões de corpo, gênero e binaridade.

Fig. 7 – “O Legado de Rosa Magalhães (2019).

Exposições no Rio

2016

Mostra Pavilhão –
Curadoria: És Uma Maluca
Casa França-Brasil / RJ

Experiência nº 5
Curadoria : Isabel Portela
Espaço Cultural A MESA, Rio de janeiro / RJ

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2017

Exposição Abre-Alas 13
Curadoria: Mara e Marcio Fainziliber, Bernardo de Souza e Maria Laet
Galeria A Gentil Carioca, RJ.

“imersões “
Curadoria: Cadu, Efrain Almeida, Marcelo Campos, Marisa Flórido.
Escola Sem Sítio- Casa França-Brasil, RJ

“Festa de Aniversário”
Curadoria: Marcelo Campos e Efrain Almeida . Espaço A Mesa/ RJ

“Os corpos são as obras”-
Curadoria: Guilherme Altmayer e Pablo León de la Barra
DESPINA /Rio de Janeiro

“Carpintaria para todos”
Organizadores e colaboradores voluntários são: Alexandre Gabriel, Barrão, Bernardo Mosqueira, Daniela Corrêa Fortes. Eduardo Ortega, Isabel Diegues, Laura Mello, Luisa Duarte, Marcelo Campos, Márcia Fortes, Mari Stockler e Victor Gorgulho.
Carpintaria/ Rio de Janeiro.
” Festival Panorama”
Curadoria: Nadam Guerra. Escola de Cinema Darcy Ribeiro/ RJ

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-2018

“Formação e Deformação”
Curadoria: Keyna Eleison e Ulisses Carrilho
Escola de Artes Visuais do Parque Lage/ RJ

“Manjar: Somos Muitxs”
Curadoria: Bernardo Mosqueira. Solar dos Abacaxis , RJ

” Africanizze Performática”
Curadoria: Candé Costa e Silvana Marcelina . Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica/RJ

“CABHUM”
Curadoria: Ulisses Carrilho. Galeria Candido Portinari- UERJ / RJ

Exposição “MANJAR”- Solar dos Abacaxis.
Curadoria: Bernardo Mosqueira. RJ

“Corpos InTransito”
Curadoria: Jean Carlos Azuos – Galpão Bela Maré – RJ


“Vadios e Beatos”
Curadoria: Marcelo Campos. Galeria da Gávea. RJ
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-2019

Para Habitar Liberdades”
Curadoria: Keyna Aleison e Bernardo Mosqueira. Solar dos Abacaxis/ RJ

“O Trabalho Trabalha Trabalha”
Curadoria: Natália Quinderé – Espaço Fosso / RJ

“Metrópole Transcultural – Retratos da Periferia”- Curadoria: Ronald Duarte- Galpão Bela Maré/ RJ .

“Uma delirante celebração carnavalesca: o legado de Rosa Magalhães”
Curadoria: Leonardo Antan – Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica- RJ.

“Impávido Colosso”
Curadoria: Bianca Madruga , Jessica Di Chiara, Letícia Tandeta, Pollyana Quintela – Espaço A Mesa /RJ

“Manjar: Baile da Aurora Sincera”
Curadoria: Bernardo Mosqueira. Solar dos Abacaxis/ RJ

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-2020 “Casa Carioca”
Curadoria: Marcelo Campos e Joice Berth.
Museu de Arte do Rio.

“Arte como Respiro – Múltiplos editais de Emergência”. Itaú Cultural.

Referências bibliográficas

https://cargocollective.com/rafaelbqueer/About-Rafael-Bqueer

https://www.mam.rio/colecionadores/rafael-bqueer/
https://www.mam.rio/colecionadores/rafael-bqueer/

https://www.itaucultural.org.br/secoes/entrevista/rafael-bqueer-muitas-vezes-quando