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Pesquisas em Arte

MISSÃO ARTÍSTICA FRANCESA

(Renan Araujo, bolsista PIBIC-CNPq)

A Missão Artística Francesa foi um dos marcos no que diz respeito ao desenvolvimento da institucionalização das artes no Brasil, ocorrendo especificamente o seu início em 25 de março de 1816 (IPHAN, 2016).

A vinda da Missão foi incentivada pela vinda de Dom João VI (1767-1826) e da Família Real Portuguesa para a colônia brasileira em 1808. Como principal objetivo, a Missão implementou o ensino regular das artes, como o desenho, a pintura, a escultura, a arquitetura etc., com o intuito de modernizar a nova sede do reino português (IPHAN, 2016), denominado na época de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815-1822).

A Missão foi chefiada por Joachim Lebreton (1760-1819) e teve a presença de renomados artistas, sendo seus principais representantes os pintores Jean-Baptiste Debret (1768-1848) e Nicolas Antoine Taunay (1755-1830), os escultores Auguste Marie Taunay (1768-1824), Marc Ferrez (1788-1850) e Zépherin Ferrez (1797-1851) e o arquiteto Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny (1776-1850) (IPHAN, 2016).

Com a morte de Lebreton, no ano seguinte, a Missão passou a ser comandada por Jean-Baptiste Debret (MISSÃO, ENCICLOPÉDIA, 2024) que decorreu com uma tendência mundial conhecido como estilo neoclássico e que viria a ser a vertente estilística oficial da Corte portuguesa – rompendo com avanços do desenvolvimento dos estilos Barroco e Rococó até então no Brasil (IPHAN, 2016).

Por outro lado, houve dificuldades pelo grupo de artistas franceses em relação ao objetivo da Missão devido a um decreto estabelecido em 12 de agosto de 1816, fundando a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, que ofereceria ajuda financeira para os artistas durante alguns anos para as suas produções artísticas. Entretanto, mesmo com essa medida formal, essa ação não foi exercida (ENCICLOPÉDIA, 2024). Isso ocorreu devido a divergências políticas e sociais, como “a resistência de membros lusitanos do governo à presença francesa; as dificuldades impostas pelo representante da monarquia francesa, o cônsul-geral coronel Maler; o atraso de ordem material e estrutural no qual se encontrava o Rio de Janeiro; o desprezo da sociedade por assuntos relativos às artes” (ENCICLOPÉDIA, 2024).

Seguidamente, depois de mais dois decretos, em 1826, é oficialmente estabelecida a Academia Imperial de Belas-Artes (1826-1889), com o interesse de institucionalizar cada vez mais esse projeto educativo e artístico no Brasil. Desse modo, algumas das principais heranças deixadas pelos artistas franceses que vieram na Missão Francesa foi a formação de novos pintores, escultores e arquitetos que continuariam com o legado de fomentar “o ensino acadêmico de arte e proporcionando a profissionalização de inúmeras gerações de artistas”(Google Art & Culture, 2024).

Atualmente, é possível visitar o portão da Academia Imperial de Belas-Artes (AIBA) localizado no Jardim Botânico, na cidade do Rio de Janeiro, e apreciar a sua estética neoclássica envolta de paisagens naturais. O Jardim, a propósito, também fora iniciativa do governo português.

Pela AIBA, dois importantes pintores foram fundamentais para o registro das informações sobre as questões naturais da fauna e flora e dos costumes sociais e políticos da época do Brasil colônia. São eles: Jean-Baptiste Debret e Nicolas Antoine Taunay. O primeiro, é um dos nomes mais conhecidos de nossa história devido suas pinturas vibrantes que referenciam muitos dos comportamentos da população brasileira no século XIX, além dos registros de eventos oficiais que envolviam a Família Real Portuguesa (Google Art & Culture, 2024).

Debret foi um importante pintor, desenhista, decorador, cenógrafo e professor, o qual obteve sua formação acadêmica e artística na França, lecionando neste país e futuramente no Brasil, onde quis integrar a Missão Artística Francesa após a queda do governo de Napoleão Bonaparte (1769-1821) e da morte do seu primeiro e único filho (ENCICLOPÉDIA, 2024). Além dos registros de suas ilustrações sobre as questões naturais, políticos e sociais, das atividades agrárias e do trabalho escravo na colônia brasileira, Jean-Baptiste Debret, juntamente com o arquiteto Grandjean de Montigny, ornamentaram as ruas do Rio de Janeiro a pedido de Dom João VI (ENCICLOPÉDIA, 2024).

Pelas pinturas de Debret podemos ter um ótimo panorama social e documental da cidade do Rio de Janeiro, mas também o artista visitou outras cidades, representando em suas pinturas as paisagens e a vida costumeira dos locais, além de ter sido um dos organizadores da “Exposição da Classe de Pintura de História da Academia”, em 1829, sendo esse o primeiro registro de uma mostra pública de artes na história do Brasil, o que ocasiona na inauguração das próximas exposições gerais artísticas no país (ENCICLOPÉDIA, 2024).

Desembarque da Imperatriz Dona Leopoldina, 1818 – Jean-Baptiste Debret
– Óleo sobre tela (ENCICLOPÉDIA, 2024).
Calceteiros, 1824 – Jean-Baptiste Debret –
Aquarela sobre papel, c.i.e. (ENCICLOPÉDIA, 2024).

Caffé Torrado, 1826 – Jean-Baptiste Debret –
Aquarela sobre papel, c.i.d. (ENCICLOPÉDIA, 2024).

Embora não tão conhecido popularmente como Debret, Nicolas Antoine Taunay também é um dos maiores nomes da Missão Artística Francesa. Começou sua formação acadêmica e artística na França e foi um dos colaboradores da expansão do estilo neoclássico nas terras tupiniquins, além de ser “um dos fixadores da paisagem urbana do Rio, durante os cinco anos que viveu nessa cidade” (Google Art & Culture, 2024).

Pintor, ilustrador e paisagista, Taunay, assim como Debret, integra a equipe de Joachim Lebreton na Missão Francesa após a queda do governo de Napoleão, sendo em 1816 um dos professores de pintura de paisagem na Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, que se tornaria futuramente a Academia Imperial de Belas Artes, em 1826 (ENCICLOPÉDIA, 2024).

Taunay também pintou diversos retratos da corte portuguesa, no entanto, foi com as suas esplêndidas pinturas de paisagens da cidade do Rio de Janeiro que obteve reconhecimento no país, embora já fosse artística e academicamente reconhecido na França (ENCICLOPÉDIA, 2024). Inicialmente encantado com as figuras naturais da cidade, o artista pintou muitos dos cenários do Rio, como o Largo da Carioca e outras paisagens, sempre mesclando minuciosamente o seu estilo neoclássico com os da natureza (ENCICLOPÉDIA, 2024). Por outro lado, o artista não ficou muito tempo no Brasil. Em 1821, retornou a França por motivos de desentendimento com o diretor da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, em que indicou o seu filho Félix Émile-Taunay (1795-1881) para substituí-lo nas classes de pintura de paisagem (ENCICLOPÉDIA, 2024). Já na França, continuou com a sua carreira de sucesso, mas, também, mesmo com o pouco tempo que ficou no Brasil, Nicolas Antoine Taunay contribuiu bastante para a história da arte brasileira, o qual podemos contemplar suas pinturas da cidade do Rio de Janeiro como instrumento documental de como era a cidade no século XIX.

Largo da Carioca em 1816, 1816 – Nicolas Antoine Taunay –
Óleo sobre tela (ENCICLOPÉDIA, 2024).
Vista do Outeiro, Praia e Igreja da Glória, 1817 – Nicolas Antoine Taunay –
Óleo sobre tela (ENCICLOPÉDIA, 2024).

Retrato de Jeanneton, s.d. – Nicolas Antoine Taunay –
Óleo sobre tela, c.i.d. (ENCICLOPÉDIA, 2024).

Sendo assim, é possível compreender a importância da Missão Artística Francesa para o Brasil, considerando que seu objetivo principal foi fomentar e institucionalizar as artes no país – reconhecido até os dias de hoje.

REFERÊNCIAS

Google Art & Culture. Missão Artística Francesa: coleção Museu Nacional de Belas Artes. Disponível em: https://artsandculture.google.com/story/RgVhzj8B2O8ZIg?hl=pt-BR Acesso em: 31 jan. 2024.

IPHAN. Missão Francesa completa 200 anos. 2016. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/3515/200-anos-missao-francesa Acesso em: 30 jan. 2024.

JEAN-BAPTISTE Debret. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa18749/jean-baptiste-debret. Acesso em: 31 de janeiro de 2024.

MISSÃO Artística Francesa. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo340/missao-artistica-francesa Acesso em: 30 de janeiro de 2024.

NICOLAS Antoine Taunay. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa24452/nicolas-antoine-taunay Acesso em: 31 de janeiro de 2024.