Nutrição visual é um espaço digital para difusão do conhecimento acerca do campo das Artes Visuais e História da Arte para apoio às pesquisas escolar e acadêmica.
O nome Nutrição Visual foi definido a partir do conceito de rizoma desenvolvido por Deleuze e Guattari, na obra Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia (1996). A complementação do nome – Visual – refere-se aos conteúdos difundidos no programa curricular de Artes Visuais e à sua correspondência com a historiografia da arte no Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira – CAp – na educação básica (ensinos fundamental e médio) – em articulação pedagógica com a Licenciatura em Artes Visuais (Graduação) e no Programa de Pós-Graduação de Ensino em Educação Básica/PPGEB (Mestrado Profissional), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro/UERJ.
Nutrição, entendido como rizoma, conforme Deleuze e Guattari (1996), entende-se um emaranhado de percursos em que não é possível distinguir início e fim, muito menos núcleo ou ponto central – a ‘nutrição’. O conhecimento se deve aos encontros – em certa medida, aleatórios. Sendo assim, o nome nutrição visual aponta para a perspectiva arborescente, em fluxo contínuo, em expansão. Desse modo, Nutrição visual propõe trajetórias artístico-estéticas descentralizadas, apesar de conectadas por algum viés temático – como vem sendo testado metodologicamente na educação básica do CAp-UERJ. Às contribuições filosóficas (apropriadas dos autores mencionados acima) propõem-se diálogos artísticos essencialmente ligados às investigações empíricas, no florescimento e processualidade atemporais da historiografia da arte.
Considerados como filósofos da diferença, Deleuze e Guattari (1996), colocam a imanência e/ou a multiplicidade da construção do conhecimento como um de-vir. Isso significa que a ideia que perpassa – (pela) Nutrição (e no) Visual – é a de que conceitos estéticos articulados alegoricamente sejam extensivos em outras/novas possibilidades; em redirecionamentos e direções oblíquas.
Num trânsito rizomático, o site destaca os Mapas-visuais. Os Mapas são uma nova metodologia proposta para a dinamização dos conteúdos curriculares de História da Arte na educação básica do CAp-UERJ (desde 2009) – mas que também podem ser aplicados nos anos de escolaridade anteriores ao ensino médio. Os Mapas-visuais trazem imagens como registros cotidianos da cultura visual e/ou obras de arte que dialoguem a partir de uma temática. O alicerce que fundamenta os Mapas-visuais é a articulação artística atemporal entre as imagens que apresentam, descartando a importância da cronologia histórica dos movimentos e escolas artísticos – como sequência da ideia trazida pelo Nutriçãovisual. Intencionalmente, os Mapas exibem tensões estéticas – por aproximações ou distanciamentos – entre as imagens que, habitualmente, não conversam (de imediato) pelo viés cronológico ou artístico. O que leva a uma leitura imagética livre de referências hierárquicas ou verticalizadas.
O rizoma, caule subterrâneo de algumas espécies, indica as metáforas da multiplicidade, da heterogeneidade, das conexões e da ruptura a-significante. Multiplicidade no sentido da inexistência de uma unidade central no objeto ou que se divida no sujeito. Apenas multiplicidades ou variedades de medida. Não existe uma realidade, mas múltiplas realidades articuladas. As multiplicidades se definem pelo fora, pelas linhas de fuga: linha abstrata ou de desterritorialização segundo a qual elas mudam de natureza ao se conectarem às outras, nas palavras de Deleuze e Guattari (1996). Nessas conexões qualquer ponto do rizoma pode e deve ser conectado a qualquer outro. Não existe uma realidade, apenas, mas múltiplas realidades interconectadas. A característica de ruptura do rizoma acontece cada vez que linhas segmentares explodem numa linha de fuga. Estas linhas buscam conexões a outras linhas, eliminando a noção de oposição dual, de hierarquia ou de ordem natural preestabelecida na produção de significado.
Sendo assim, o rizoma pode ser re-conhecido como mapa, e não decalque. O mapa nos remete a uma possibilidade quase infindável de saídas e de entradas, não de localização, de rumo ou de chegada, mas de erupção de novas possibilidades de significado. A característica cartográfica do rizoma nos remete à desterritorialização que, em um deslocamento constante, torna possíveis a multiplicidade e a diferença, com possibilidades transversais.
O que não pode deixar de ser mencionado é que, em paralelo às propostas dos Mapas-visuais, são postados no site Nutrição visual pesquisas acerca das trajetórias biográfica e artística dos expoentes nos Mapas. Sendo assim, a pesquisa da/o estudante – nos diferentes segmentos de escolaridade – acerca das relações entre as obras artísticas e os movimentos/estilos estéticos frente à historiografia da arte pode ser aprofundada. E com a informação globalizada em sites de busca e pesquisa, o interesse pelo conhecimento artístico/imagético é ampliado pelo/ao estudante.
A abordagem do site, no entanto, compreende a relevância da historiografia da arte nacional e da cultura visual na dinamização de percursos artísticos autorais dos docentes em consonância às narrativas do processo identitário visual da juventude no espaço escolar. Algumas experienciações visuais podem ser apreciadas no instagram com perfil @nutricaovisual.
Vale mencionar que Nutrição visual surge com o Projeto de Pesquisa “Arte e Currículo – percursos dialógicos” vinculado à Iniciação Científica / PIBIC (desde 2018) na Universidade do Estado do Rio de Janeiro / UERJ, com o apoio do CNPq de bolsista Licenciando em Artes Visuais.
O tema principal é vinculado à Iniciação Científica Júnior (IC Jr/CAp) com o projeto de pesquisa “Identidade visual – escola, juventude e consumo” (com estudante bolsista da educação básica CAp-UERJ) ; à Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e de Inovação (PIBITI) “Nutrição visual”; à Iniciação à Docência (ID) com o Projeto “Nutrição visual – estratégias metodológicas para o ensino de Arte na educação básica” e, ainda, às Atividades Extensionistas (Depext) do Projeto “O CAp-UERJ e suas impressões visuais” – desde 2015 – que estudam os objetos estéticos (mochilas, tênis, estojos) como identitários da formação crítico-estética das/dos estudantes da educação básica no espaço escolar CAp – estes dois últimos com bolsas UERJ para Licenciandos em Artes Visuais cadastrados na Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa/PR-2 (Decarh).
Mais recentemente, a Pesquisa “Identidade visual – percursos no ensino de Arte” aprovada com o edital Prodocência (2022-24)/Pró-Reitoria de Graduação/PR1 (Cetreina), amplia os Projetos – em andamento – voltados ao processo identitário visual das/dos estudantes da educação básica do CAp-Uerj. Com este Projeto de ensino, (5) Bolsas de Articulação Acadêmico-Profissional ampliam a parceira com os Graduandos (Licenciatura e Bacharelado) de Artes Visuais e História da Arte do Instituto de Artes/IART.
Como princípio norteador, os Projetos de pesquisa em andamento pretendem enfatizar a arte nacional em conexão à cultura visual cotidiana apresentadas nos programas curriculares (desde 2010) dos livros didáticos (PNLD) assim como nas orientações de apoio aos docentes promovidas pelas Secretarias de Educação do Estado do Rio de Janeiro, prioritariamente.
Mesmo que as coleções pedagógicas da área contemplem todas as Artes – da educação infantil ao ensino fundamental I e II (contemplando Artes Visuais, Música, Teatro e Dança como disciplina curricular única) ou, como no ensino médio compondo a área de Linguagens e suas Tecnologias (com Língua Portuguesa, Educação Física e Língua Inglesa) (BNCC, 2018), as Artes Visuais e História da Arte serão nosso foco de estudo por ser a área de interesse principal das/dos docentes e discentes aqui envolvidos e atuantes em sala de aula na educação básica.
Como algumas hipóteses que balizam a pesquisa, seguem:
- As linguagens visuais nacionais são proeminentes no ensino das Artes como referências estéticas culturais – na mesma medida que a arte internacional?
- Há alguma recorrência entre a historiografia da arte nacional e a cultura visual cotidiana, ou seja, entre as alegorias estéticas e as manifestações artísticas da atualidade?
- Os eixos temáticos incentivam o professor a dinamizá-los frente às suas próprias ideias e reflexões estéticas?
- As diversas realidades culturais das/dos estudantes são consideradas no diálogo com a experienciação poética em sala de aula?
- A Arte é disciplina integrante de planos inter e multidisciplinares? Todas as Artes (Artes Visuais, Música, Teatro e Dança) são integradas nos programas curriculares de modo que o professor seja efetivamente um balizador concomitante às particularidades das diferentes áreas do conhecimento?
- E a arte da contemporaneidade, é repercutida em consonância com a historiografia da arte?
Enquanto resultados preliminares, constatamos que os livros didáticos de Artes contemplam as diferentes linguagens artísticas com propostas multidisciplinares e com metodologias dinamizadas.
A organização (de certo modo rizomática) com grande diversidade de conteúdos interligados e decorrentes processos artísticos nos chama a atenção. Alguns livros trazem um CD-ROM e, ainda na capa, disponibilizam um código de acesso à demais conteúdos pedagógicos em seus respectivos sites.
Cada volume de uma determinada coleção de um dos livros didáticos em estudo corresponde a um ano de escolaridade, isto é, são adequados as diferentes faixas etárias e divididos por temáticas, tais como brincadeira; identidade; ambiente; comunicação; espaço; corpo; movimento; tempo; tempo das tecnologias, cultura visual; sistemas de gravação de áudios e vídeos; diversidade; sexualidade; educação inclusiva etc.
Os fundamentos e objetivos referem-se à Base Nacional Comum Curricular / BNCC (2018) são notadamente recursivas em todas as coleções / editoras.
Também há destaque para indicações bibliográficas mencionadas com frequência no decorrer dos livros didáticos, apesar de recursivas.
Os diversos procedimentos de avaliação indicados nas coleções são apresentados em muitos formatos, tais como: dinâmica, diário, portfólio, processual.
Quanto aos conteúdos relacionados à arte nacional/brasileira é quantitativamente pouco reentrante nos programas curriculares. A abordagem qualitativa também acompanha a anterior, haja vista os mesmos artistas e estilos estéticos serem apresentados nas coleções pesquisadas. A historiografia da arte internacional, prioritariamente europeia, de fato, tende a ser predominante nos livros.
Em geral, a cultura visual do cotidiano e as particularidades regionais brasileiras são pouco mencionadas e relacionadas à arte internacional.
Os Projetos de Pesquisas seguem com renovação aprovada pela Universidade até o ano de 2024. E outros novos encaminhamentos, sem dúvida, estão por vir.
Em tempo, a inspiração para a criação da logomarca NV / NutriçãoVisual foi a obra “Sem título” do artista Amílcar de Castro (1920-2002) localizada no pátio externo do Museu de Arte do Rio/MAR.