Carregando...
Pesquisas em Arte

OSWALDO GOELDI

(por Carolina Pereira)

Biografia

Oswaldo Goeldi nasceu em 31 de outubro de 1895 no Rio de Janeiro e morreu em 15 de fevereiro de 1961 – na mesma cidade de seu nascimento. Em seus 65 anos de vida, foi ilustrador, desenhista, professor e gravador.  Ele é, sem dúvida, um dos maiores nomes do expressionismo no Brasil.

Apesar de carioca, viveu até os seis anos de idade na cidade de Belém, no estado do Pará, quando se transferiu com a família para Berna, Suíça. Seu pai, Emílio Goeldi, era suíço-alemão e trabalhou como zoólogo e naturalista no Brasil por mais de dez anos antes de retornar a sua cidade natal com sua família.

Oswaldo Goeldi não teve as Artes como formação inicial. Primeiramente, ele inicia o curso de engenharia, porém, o interrompe devido à convocação na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).  Após a morte do seu pai, em 1917, abandona de vez a engenharia e transfere-se para a Escola de Artes e Ofícios, em Genebra.

Contudo, ele não terminou seus estudos acadêmicos, considerando a Escola conservadora demais em relação aos modos artísticos. Nesse mesmo ano, ao sair da Escola, participou de aulas nos ateliês dos pintores suíços Serge Pahnke (1875-1950) e Henri van Muyden (1860-1936).

Também é no ano de 1917 que Goeldi participa de sua primeira exposição, na qual há o encontro de seu trabalho com o trabalho do austríaco Alfred Kubin (1877-1959). Kubin e seus temas sombrios (figura 2) fortemente atrelados à imaginação vão influenciar fortemente Goeldi durante sua trajetória artística. Estes dois artistas trocam cartas até o fim da vida de Kubin.

Figura 2 -” A Hora da Morte”, de Alfred Kubin, 1900.

Goeldi retorna ao Rio de Janeiro em 1919 para trabalhar como ilustrador. Dois anos mais tarde, expõe no Liceu de Artes e Ofícios. Seu trabalho não é bem recebido pela crítica, visto suas influências modernas. Mesmo assim, é graças a essa exposição que Goeldi se aproxima de artistas com os mesmos ideais modernos, como  Manuel Bandeira (1886-1968)Di Cavalcanti (1897-1976) e Rachel de Queiroz (1910-2003).

Apesar de extremamente versátil, é graças a influência de Ricardo Bampi que Goeldi começa a trabalhar com a xilogravura. Tempos depois é esta a técnica que acompanhará a carreira do artista quase que exclusivamente. Sua gravura foi por muitos anos monocromática, tendo como o preto sua cor principal (figura 3).

Figura 3 – “Sem titulo”, de Oswaldo Goeldi, sd (xilogravura Coleção Mar Morto).

Na década seguinte, o artista continua seu trabalho como ilustrador e gravador, produzindo o álbum 10 Gravuras em Madeira de Oswaldo Goeldi (1930) e conta com introdução de Manuel Bandeira. Graças ao dinheiro da venda, pôde viajar à Europa, expondo seus trabalhos na Suíça, Áustria e Alemanha. É nesta mesma viagem que ele se encontra pessoalmente com Kubin.

Depois de sua volta ao Brasil, o artista começa a utilizar cores em suas xilogravuras (figuras 4 e 5) e em 1941, ilustra uma edição brasileira (figura 6) dos livros do autor russo Dostoiévski (1821-1881). Expõe, em 1950, na 25° Bienal de Veneza e, em 1951, ganha o primeiro lugar no prêmio de gravura na Bienal de São Paulo.

Figura 4 – Chuva, de Oswaldo Goeldi, 1957 – xilogravura a cores 22 x 29,5 cm.
Figura 5 – O ladrão, de Oswaldo Goeldi, 1955 – xilogravura a cores 25 x 19 cm.
Figura 6 – Gravura de Goeldi que integra “Noites Brancas”, de Dostoiévski.

Em 1952, Goeldi inicia sua carreira de professor na Escolinha de Arte do Brasil e, três anos mais tarde, começa a dar aulas na Escola Nacional de Belas Artes (Enba).

Goeldi faleceu em 1961 e, sem dúvida, deixou um grande legado para a arte moderna brasileira.

Goeldi, o expressionismo e seu mundo sombrio

Apesar de fazer parte do modernismo brasileiro, Goeldi destaca-se pelas suas diferenças com seus contemporâneos. Mesmo Anitta Mafaltti (1889-1964), outra artista influenciada pelo expressionismo europeu, quase não apresenta semelhanças técnicas ou temáticas. Goeldi não apresenta cores vibrantes, traços definidos e não representa as festas populares. Como já apontaram, “Goeldi é a nota dissonante ao modernismo solar de 1922”. (FILHO; GOELDI, 2012).

Goeldi apresentou em suas obras o fantástico e o sombrio. Numa primeira fase, tal fantástico era representado pelas figuras dos sonhos e imagens alegóricas, muito relacionadas ao trabalho de Kubin. Goeldi encontrou não apenas em Kubin, mas também no expressionismo, a forma de representar seus sentimentos mais profundos, muitas vezes encontrados sobre as trevas do ser humano (figura 7).

Figura 7 – Abandono, de Oswaldo Goeldi, 1937. Xilogravura a cores 17,3 x 21,8 cm.

Na obra de Goeldi, nada é o que exatamente parece ser. Seus personagens solitários nunca apresentam um fato ou ação consolidada.  Suas cores sempre dominadas pelo preto acentuam ainda mais a escuridão. Quando a cor surge, acentua ainda mais detalhes – os quais aludem ao tema da obra. Seus prédios, ruas e avenidas vazias, completam o cenário melancólico de sua obra e de sua alma.

REFERÊNCIAS

ANITA Malfatti. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8938/anita-malfatti. Acesso: 01 de Abr. 2021. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

OSWALDO Goeldi. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10588/oswaldo-goeldi. Acesso: 30 de Mar. 2021. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7

PROJETO GOELDI (Brasil). O Artista. In: PROJETO GOELDI (Brasil). Projeto Goeldi. Brasil, sd. Disponível em: https://oswaldogoeldi.org.br/o-artista.html  Acesso: 29 mar. 2021.

MUSEU DE ARTE MODERNA DE SÃO PAULO (São Paulo). Oswaldo Goeldi: Sombria Luz. In: MUSEU DE ARTE MODERNA DE SÃO PAULO (São Paulo). MAM. São Paulo, 2012. Disponível em: https://mam.org.br/exposicao/oswaldo-goeldi-sombria-luz/ Acesso: 29 mar. 2021.

PROJETO GOELDI (Brasil). Gravuras. In: PROJETO GOELDI (Brasil). Projeto Goeldi. Brasil, sd. Disponível em: https://oswaldogoeldi.org.br/gravuras.html Acesso: 29 mar. 2021.

Pesquisa Júlia  Peixoto, Juliana Patronelli, Kailani Teixeira e Maria Luiza Alves, CAp, turma 2C, 2023.