(por Monique Araújo)
Vídeo disponível no link: https://vimeo.com/284789268
Aline Motta tem formação em comunicação social e em cinema, trabalhou em sets de filmagens por quase 16 anos. A artista revela que passou décadas tentando dar forma ao que tinha para dizer. Através de bolsas e editais vem realizando trabalhos fortes acerca de sua identidade.
Instigada pela revelação de um segredo de família, a artista Aline Motta partiu em uma jornada à procura de vestígios de seus antepassados. Entre áreas rurais do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Portugal e Serra Leoa, pesquisando em arquivos públicos e privados, a artista mapeou o percurso de seus ancestrais – realidade, sobretudo, de famílias negras às quais foram impedidas ao direito da memória devido o processo violento de escravização. Seu trabalho coloca em evidência, através da história de sua família, o racismo, as formas usuais de representação, a noção de pertencimento e identidade.
REFERÊNCIAS
QUINTELLA, Pollyana. Rosana Paulino: Quando imagem vira corpo. Revista Continente, 2020. Disponível em: <https://revistacontinente.com.br/edicoes/234/rosana-paulino > Acesso em 12 de Agosto de 2021.
TEIXEIRA, Marina D. Ser artista negra: o olhar de Rosana Paulino sobre passado, presente e futuro. EDITORIAL, 2019. Disponível em: <https://www.sp-arte.com/editorial/ser-artista-negra-o-olhar-de-rosana-paulino-sobre-passado-presente-e-futuro/ > Acesso em 12 de Agosto de 2021.
REVISTA ZUM. “Jogo da Memória”, de Aline Motta. 2020. Disponível em: < https://revistazum.com.br/aline-motta/ > Acesso em 8 de setembro de 2021.
MOTTA, Aline. Pontes sobre Abismos. 2017. Disponível em: < http://www.alinemotta.com/Pontes-sobre-Abismos-Bridges-over-the-Abyss > Acesso em 8 de setembro de 2021.
A INVOCAÇÃO DA MEMÓRIA FAMILIAR PELAS OBRAS DAS ARTISTAS ROSANA PAULINO E ALINE MOTTA
Parede da memória é uma série de 1994 que inaugura a carreira de Rosana Paulino. A obra é composta de onze fotografias do arquivo familiar da artista que são impressas em almofadas, algumas retocadas em aquarela. Em um painel, as pequenas almofadas – cada almofada traz uma fotografia de rostos considerados anônimos – são expostas repetidas vezes, como se insistissem em querer contar uma história.
As peças se assemelham aos patuás – amuletos utilizados por alguns praticantes do candomblé. Usualmente confeccionados com tecidos da cor correspondente a cada orixá, os patuás são trouxinhas que carregam ervas ou outras substâncias com a finalidade de proteger aqueles que os portam. No entanto, a série desloca essa função reconfigurando essas imagens pela artista que procura invocá-las em reflexões não somente sobre sua família, mas também com reflexões sobre o anonimato de tantas famílias negras na busca por compor uma memória coletiva. Nesse sentido, a costura presente nos patuás da série Parede da memória se expande para outros trabalhos de Rosana Paulino, tais como a série Bastidores (1997), em que Paulino transforma imagens em corpos, e Tecelãs (2003), na qual uma profusão de linhas amarra bocas, sexo e pés de mulheres em conflito, prestes a se transformar.
No Mapa-visual “Ancestralidades”, tanto a Parede da Memória, de Rosana Paulino, quanto Pontes sobre Abismos, de Aline Motta, partem da condição de serem mulheres pretas, em famílias pretas e de suas relações como artistas com o silêncio e o vazio institucionalizados na “dita história oficial acadêmica”. Seus trabalhos, evidentemente, com suas singularidades, se conectam pela invocação em refletir e interagir com uma memória coletiva, provocando novas poéticas em torno de pessoas aparentemente anônimas, ou histórias secretas que formaram um Brasil que precisa ser desbravado.