(por Camilla Tenorio, Mestranda PPGEB)
Lenora de Barros (São Paulo, 1953) é uma artista visual e poeta brasileira, formada pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Sua trajetória artística é marcada pela poesia visual, com grande influência do movimento Concreto a qual seu pai, Geraldo de Barros, pertencia.
Lenora utiliza vários meios e técnicas artísticas contemporâneas em sua produção visual, tais como: performances, videoarte, instalações, intervenção urbana, livro-objeto. Sua produção transita entre a palavra e a imagem, e explora os aspectos visuais, verbais e sonoros da linguagem. A fotografia e o vídeo são comumente utilizados como forma de documentar performances encenadas diante da câmera.
A artista expôs poemas visuais realizados pela primeira vez em videotexto na 17ª Bienal internacional de São Paulo, em 1983. No mesmo ano publica o livro “Onde Se Vê”, pela editora Klaxon. Trabalhou na folha de São Paulo como editora de Arte na segunda metade dos anos 1980 e como editora de fotografia no início da década de 1990, promovendo uma renovação gráfica no jornal com variação de letras entre o título e o texto, divisão da página em módulos, cadernização por assunto, ilustração feita em computador.
Lenora tem obras em coleções públicas e particulares no Brasil e no exterior: Museu d’Art Contemporani, de Barcelona; Daros-Latinamerica (Zurique e Rio de Janeiro) e Museu de Arte Moderna de São Paulo/MAM-SP.
A obra “XÔ DOR” surge em 1993 a partir de um episódio monstruoso em que dois carros com placas cobertas atiraram em direção a adolescentes em sua maioria que dormiam na rua ao redor da Igreja da Candelária no Centro da cidade do Rio de Janeiro. Impactada com o acontecimento que ficou conhecido como chacina da Candelária, Lenora de Barros cria um spray no qual tem como o alvo o Brasil representado na embalagem pelo mapa do país e alusão ao som do nome de um inseticida. Após mais de 20 anos a obra foi exposta na parede da Galeria A Gentil Carioca, entre 2016 e 2017 – e permanece atual à realidade brasileira.
Na obra “Procuro-me”, Lenora de Barros expõe cartazes que fazem uma alusão aos cartazes de procurados pela Polícia, mas ao invés de estar em busca de outra pessoa, Lenora procura a si mesma. A série de fotografias foi produzida a partir de programas usados em cabeleireiros para simular cortes. Esse trabalho foi publicado primeiramente no antigo suplemento Mais!, da Folha de S. Paulo, logo após o 11 de Setembro de 2001 – momento em que todos procuravam os autores dos atentados, a artista se procurava no caos que é viver.
A obra Poema é composta por uma sequência de seis fotografias: o registro de uma espécie de performance em que a língua da artista interage com uma máquina de escrever. É como se ela não precisasse mais dos dedos para escrever, a língua torna-se instrumento diretamente da escrita. A língua de Lenora roça nas próprias letras que o órgão geralmente é incumbido de pronunciar, suprimindo a distância entre as dimensões gráfica e sonora da palavra. Em depoimento, a artista declara que a ideia para o trabalho surgiu da intenção de fazer um poema sobre a criação de um poema mas, diante do papel em branco, ela viu emergir uma espécie de angústia. A solução viria durante à noite, não como poema escrito, mas já em sua forma visual.
Homenagem a George Segal é uma sequência de fotos de uma performance na qual Lenora de barros escova os dentes até que seu corpo fique tomado pela espuma da pasta de dente, remetendo a obra do escultor americano George Segal (1924 – 2000). Segal ficou muito conhecido por suas esculturas em tamanho natural feitas de ataduras de gesso (o mesmo material utilizado para imobilizar braços e pernas quebrados) de cenas do cotidiano.
Referências
Anita Schwartz Galeria de Arte. Lenora de Barros_portfólio. Rio de Janeiro: Anita Schwartz Galeria de Arte, 2020. https://www.anitaschwartz.com.br/ Disponível em https://www.anitaschwartz.com.br/wp-content/uploads/2020/09/lenoradebarros_portfolio.pdf Acesso: 10 abr 2022.
EBOLI, Pedro Caetano. A língua e o nó na garganta de Lenora de Barros. Notícias ArteRio. Rio de janeiro, 17 de out 2020. Disponível em https://artrio.com/noticias/a-lingua-e-o-no-na-garganta-de-lenora-de-barros-por-pedro-caetano-eboli Acesso: 10 abr 2022.
FINOTTI, Ivan. Lenora de Barros promoveu renovação gráfica na folha nos anos 1980. Jornal Folha de São Paulo. São Paulo, 10 dez 2020. Humanos da Folha. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/folha-100-anos/2020/12/lenora-de-barros-promoveu-renovacao-grafica-na-folha-nos-anos-1980.shtml Acesso: 10 abr 2022.
FURLANETO, Audrey. A língua de Lenora de Barros. Jornal O Globo. Rio de Janeiro, 20 jan. 2012. Segundo Caderno. Disponível em https://pt.slideshare.net/SergyoVitro/perfil-lenora-de-barros Acesso: 10 abr 2022.
Artigos
DE LIMA, Hélida. Lenora de Barros: Poesia Expandida. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Semiótica). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica – PUC, 2017. Disponível em file:///C:/Users/Camila/Downloads/H%C3%A9lida%20de%20Lima.pdf Acesso: 10 abr 2022.
Vídeos
Exposição AR no #GaleriasdoParque com Lenora de Barros. Disponível em https://youtu.be/6tKeZiyeFg0 . Acesso: 10 abr 2022.
#NaVaranda com Lenora de Barros / Para ver em voz alta. Disponível em https://youtu.be/3PEQ0SXBigQ . Acesso: 10 abr 2022.
VídeoArtePapoMIS #16 / Lenora de Barros. Disponível em https://youtu.be/bKrKLXmidVg . Acesso: 10 abr 2022.
LENORA DE BARROS: MINHA LÍNGUA | NA PINACOTECA LUZ (Pesquisa Gabriela Rodrigues, Gabriel Pires, Rodrigo Talon e Heitor de Souza, CAp, turma 2C, 2023).
https://www.youtube.com/watch?v=AcSksgUjqUc
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