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Artistas em pesquisa

VIK MUNIZ

por Nathália Pereira.

Nascido em 1961, paulista, filho de pernambucanos e radicado no Estados Unidos, o artista Vik Muniz, que se divide entre Rio de Janeiro e Nova York (onde mantém seus ateliês), se apropria de elementos que fazem parte da vida cotidiana, como açúcar, geléia, jornal, lixo etc, para compor suas obras. É no desvio da finalidade desses materiais que Muniz cria retratos que denunciam experiências de vida escassa ou recria imagens que permeiam a memória coletiva. Seu interesse em utilizar matéria-prima extraída do dia a dia está na relação direta que faz entre arte e formas de olhar. Muniz acredita que criamos quando visualizamos algo; como que fosse possível perceber – ali – outra coisa.  

A obra Crianças de Açúcar (1996), por exemplo, foi o trabalho que proporcionou ao artista maior visibilidade internacional. Trata-se da reprodução de retratos de crianças caribenhas, oriundas de famílias pobres, que trabalhavam cortando cana-de-açúcar nas plantações em St. Kitts. O açúcar, material utilizado para compor esses retratos, ao tempo que faz referência à doçura de uma infância idealizada e desejada, entrega a realidade precária a qual essas crianças estavam submetidas.

   Já em Mona Lisas (1999), o artista utilizou geleia de uva e manteiga de amendoim para recriar a icônica pintura de Leonardo da Vinci, Mona Lisa. Vik Muniz é também conhecido pelas inúmeras releituras que fez de conhecidas obras e fotografias. Além desta, ao pesquisar seus trabalhos, podemos encontrar de A noite estrelada, de Vincent van Gogh, confeccionada com pedaços de papeis colados à John Lennon em grãos de café. Ou Freud delineado em caldas de chocolate à Les Demoiselles d’Avignon, de Pablo Picasso, trabalhada em quebra-cabeças que não se encaixam. O intuito do artista, segundo ele próprio, é aproximar o público que não costuma frequentar museus e galerias de arte da arte contemporânea por meio da materialidade comum de suas obras.

Em 2001, Vik Muniz contratou um avião que, ao expelir fumaça, fazia desenhos de nuvens no céu de Nova York. Nessa intervenção urbana, o céu era o suporte que trazia as nuvens esperadas, mas estas em forma de desenho como os que são encontrados no universo infantil. A nuvem, que não deixa de ser natural e de estar no seu lugar de origem, causa surpresa pelo seu contorno. O artista havia ali expandido as possibilidades do desenho, desde o material utilizado para realizar os traços à base para sustentá-los.

Outro trabalho de destaque de Vik Muniz é o Lixo Extraordinário (2008) que resultou na criação de um documentário de mesmo nome, vindo a ter aprovação da crítica especializada e a receber prêmios nos festivais de Sundance e Berlim. Além de uma indicação ao Oscar de melhor documentário, no ano de 2011. A proposta de Muniz era recolher material reciclado no maior aterro sanitário da América Latina, o Lixão de Jardim Gramacho que funcionou entre os anos de 1976 a 2012, com o intuito de recriar cenas cotidianas dos catadores no local. Mais uma vez, o mesmo material que dá forma e identidade à obra é o mesmo que denuncia uma realidade humana precarizada. 

Para a 56ª edição da Bienal de Veneza, o artista criou um grande barco de papel fazendo-o navegar pelos canais da cidade. O papel remetia a jornais que traziam notícias acerca das mortes de imigrantes por naufrágios enquanto tentavam atravessar o mar Mediterrâneo. O nome da obra é Lampedusa (2015) em referência à ilha italiana, onde foram contabilizados 360 mortes de imigrantes por naufrágio enquanto vinham da Líbia. Mais uma vez, Vik Muniz mostra seu interesse em abordar assuntos de teor político-social por meio de seu trabalho.

Em 2016, Muniz foi um dos diretores criativos da abertura dos Jogos Paralímpicos, que ocorreu no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Para o evento, o artista elaborou uma proposta que buscava dialogar com o conceito da cerimônia: “O coração não conhece limites”. Onde cada delegação trazia uma peça de quebra-cabeça, que ao fim formava um enorme coração. E este, após montado, pulsava sob o efeito de projeções de luzes.

De origem social simples o artista, através das temáticas que escolhe abordar, aproxima-se de diversos personagens ao ressignificá-los com a materialidade de suas múltiplas linguagens. A sua sensibilidade poética, como podemos ver, está nas obras aqui expostas e em tantas outras de fácil acesso virtual. Muniz possui um constante e incansável repertório pessoal/ artístico que vale a busca por mais informações – indicadas abaixo.   

Referências:

http://g1.globo.com/globo-news/jornal-globo-news/videos/v/roberto-davila-entrevista-o-artista-plastico-vik-muniz/4209065/ – Acessado em novembro de 2020.

https://www.rfi.fr/br/geral/20120102-jornal-frances-da-grande-destaque-retrospectiva-de-vik-muniz – Acessado em novembro de 2020.

https://tvcultura.com.br/videos/519_entrevista-vik-muniz.html – Acessado em novembro de 2020.

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9203/vik-muniz – Acessado em novembro de 2020.

http://artenarede.com.br/blog/index.php/vik-muniz-reflexos-e-versos/ – Acessado em novembro de 2020.

http://artereferencia.blogspot.com/2010/08/as-nuvens-de-vik-muniz.html – Acessado em novembro de 2020.

https://www.culturagenial.com/vik-muniz-obras/ – Acessado em novembro de 2020.

https://catracalivre.com.br/arquivo/vik-muniz-faz-barco-de-papel-gigante-para-discutir-naufragios-de-imigrantes/ – Acessado em novembro de 2020.

https://agenciabrasil.ebc.com.br/rio-2016/noticia/2016-09/com-pecas-de-quebra-cabeca-atletas-formam-coracao-na-abertura-das – Acessado em novembro de 2020.