(por Marco Antonio da Silva)
(Vitor Marques Carvalho, Pedro Inácio Mendes Medina e Thayane Caetano Moreira, Turma 2D/CAp-Uerj/2022)
A história de Heitor dos Prazeres se confunde com a história do Samba.
Transitando entre a música e as artes plásticas, a folia nas ruas e as rodas de samba, foi dessa forma que Heitor dos Prazeres viveu e imortalizou suas obras. Para se familiarizar com personagens, cenários e as cores do carnaval basta ver suas telas. E, para uma experiência otimizada, fazer isso ao som de seus belos sambas. A figuração dos corpos, em seus quadros, por exemplo, é constantemente acompanhada de gestos e movimentos, dos quais muitos sugerem som e dança.
Heitor nasceu no Rio de Janeiro em 1898, apenas 10 anos após a abolição da escravatura. Sua mãe era costureira e o pai era clarinetista da banda da Guarda Nacional, isto dava à família uma condição privilegiada em relação à comunidade negra da época.
Ainda na infância ganhou seu primeiro cavaquinho e passou a frequentar os locais onde a cultura negra efervescia no Rio de Janeiro. Posteriormente ele passou a denominar essa região de Pequena África (a Zona Portuária do Rio, os atuais bairros da Saúde, Gamboa, Santo Cristo e Praça Onze e Praça Mauá).
A Pequena África de Heitor dos Prazeres se formou em torno do Cais do Valongo, local de desembarque e comércio dos negros escravizados. Anteriormente o desembarque acontecia no Porto da Praça XV, mas por volta de meados de 1770 o tráfico negreiro foi empurrado para o Valongo com o intuito de melhorar a imagem de “boas vindas” aos aristocratas que chegavam ao Rio no porto e se deparavam com negros nus, enfermos e de todo tipo de atrocidade que acompanhava a indústria escravagista.
Deste modo, após a abolição, a região do Valongo acabou concentrando a comunidade de alforriados e de negros libertos no Rio de Janeiro, com o tempo a comunidade acabou se organizando em cortiços, sobrados, becos, ruelas, favelas e conforme outros negros migravam da Bahia e de quilombos, a região foi ficando conhecida como reduto da cultura ancestral africana.
Heitor dos Prazeres frequentava as casas de suas tias, as negras baianas da Pequena África, e foi lá que ganhou experiência com o cavaquinho. Seguindo outros “bambas” da época dividindo-se entre o ofício da carpintaria, o trabalho de engraxate e as rodas de cavaquinho, tornou-se um grande compositor de samba.
Heitor compôs inúmeros sambas e foi peça fundamental no nascimento de escolas de samba como Portela e Mangueira. Compôs “Pirrot Apaixonado” para o carnaval de 1935, em parceria com Noel Rosa, e estima-se que seja responsável por cerca de 300 sambas. Porém, sua arte não se restringiu apenas à música.
Do samba à pintura
Por volta de 1937, passou a pintar e exibir suas pinturas. Autodidata, retratava em seus quadros aquilo que já abordava em seus sambas: a cultura do negro; a vida nos cortiços; sua Pequena África; as cores do Carnaval (como na obra abaixo); as rodas de samba e bailes; as festividades; as favelas.
Apesar de sua arte ser considerada “Arte Popular” por não ter formação acadêmica em Artes Visuais e pintar tudo a partir da memória, sem muitos estudos ou modelos, Heitor dos Prazeres teve algum destaque na pintura ainda em vida. Compôs inúmeras exposições coletivas pelo Brasil e, em 1951, sua obra “Moenda” foi premiada na II Bienal de São Paulo. Após a morte sua obra alçou para exposições também na Europa.
A arte de Heitor dos Prazeres nasce de um desejo de retratar aquilo que está nas ruas, no roçado, na favela. Distante da iconografia europeia, ou desgarrado do movimento Modernista e sem muitas pretensões sua obra nos transporta para um Brasil festivo, boêmio e fundamentalmente popular.
Conheça um pouco mais sobre o artista no vídeo abaixo
“Heitor dos Prazeres – Documentário 1965”
(pesquisa de Vitor Marques, CAp – turma 2D/2022).