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Artistas em pesquisa

BANKSY – anonimato no mundo da Arte

Por Monique Araújo.

Sobre a vida pessoal de Banksy sabe-se bem pouco. Existem muitas conspirações sobre quem seja o artista, mas acredita-se que é um homem nascido em uma cidade do sul da Inglaterra chamada Bristol, possivelmente em 1973, segundo o jornal britânico Daily Mail. Envolvido em muitos mitos, há rumores de todo tipo, uns dizem que seu verdadeiro nome é Robin Banks, outros contam que ele trabalhou como açougueiro. Também falam que nem seus próprios pais sabem exatamente o que ele faz.  E mais, que talvez ele nem exista, que na verdade seja um coletivo de artistas ou até mesmo uma mulher.

A principal técnica de Banksy é o grafitti aplicado como estêncil. Seu trabalho é conhecido pelo forte cunho político-social, com doses de ironias e provocações. A própria vida do artista, parece-nos, acompanhada pelo dilema em ser anônimo e, paradoxalmente, famoso. Vândalo para uns, gênio para outros, mas sempre polêmico, provoca admiração e indignação na mesma medida. Sua galeria recorrente é o mundo, com seus becos e vielas – seu trabalho dialoga com a cidade: materialmente, ao usar objetos e utensílios encontrados nas ruas; ideologicamente, quando critica o abuso das autoridades em imagens satíricas.

A vontade de disseminar a arte de rua para diferentes culturas e classes sociais, culminou em uma arte também inclusiva. Em agosto de 2005, produziu uma série de imagens no Muro da Cisjordânia (Figuras 1-3), mais conhecido como “Faixa de Gaza”, território de grande conflito religioso e político. Imagens de uma menina segurando balões e sendo transportada para o céu; um militar abrindo uma paisagem idílica; e duas crianças abrindo uma imagem para uma praia – todas propiciam formas de emancipar o sentimento monopolizador de tensão para imaginar outras possibilidades de vida naquele espaço afundado em dor e conflitos.

Figura 1: Obra de Banksy em Belén (Cisjordânia), 2005.
Figura 2: Obra de Banksy em Belén (Cisjordânia), 2005.
Figura 3: Obra de Banksy em Belén (Cisjordânia), 2005.

Seu trabalho ”Soldier Trowin Flowers” ou “Love is in the Air” (2005) retrata um homem palestino, com boné de beisebol e o rosto coberto por um lenço, atirando com força um buquê de flores, ao invés de uma bomba (Figura 4). Banksy desloca a fúria que a postura do homem sugere para fortalecer a ideia pacífica simbolizada pelas flores. Contudo, sua arte prolifera poesia, suscitando também otimismo.

Figura 4: Soldier Trowin Flowers, 2005.

Dos subúrbios para os grandes centros, o artista foi transportado do cenário underground para o mainstream. De acordo com Will Ellsworth-Jones (http://lounge.obviousmag.org/ideias_de_guerrilha/2016/07/banksy-historia-e-suposta-identidade.html), autor da biografia não autorizada de Banksy: “Ele é o fora da lei que foi arrastado, relutante, mas reiteradamente, cada vez mais em direção ao sistema da arte.” Fator que torna o trabalho de Banksy polêmico, é a sua forma de pregar peças no sistema de arte. Irônico e subversivo critica seu próprio trabalho, já que se especula que tenha lucrado milhões.

Em outubro de 2018, o artista instalou um triturador dentro da moldura da obra “Girl With Ballon”. Assim que a obra foi vendida num leilão, um dispositivo acionou o mecanismo dentro do quadro e o desenho foi triturado. Com isso, Banksy deu visibilidade internacional para suas obras e agregou ainda mais valor ao seu trabalho, enfatizando que o grafite é arte urbana. Ironicamente, seus trabalhos têm transformado a street art em objeto de consumo, partes de muros com suas obras têm sido retirados e vendidos em leilões. O que era arte gratuita, agora tem preço – e na maioria das vezes, bem alto. 

Vídeo disponível no link:

https://www.youtube.com/watch?v=eXKE0nAMmg4

O artista também se aventurou no audiovisual no ano de 2010. Banksy fez um documentário “Exit Through the Gift Shop” criado para contar o percurso artístico de Thierry Guella, um imigrante francês que mora em Los Angeles. Banksy aparece com uma voz claramente distorcida e o rosto coberto. Em 2011, foi indicado ao Oscar como melhor documentário e ganhou o prêmio Spirit Award, que é considerado a categoria mais importante do cinema independente.

Vídeo disponível no link:
https://www.youtube.com/watch?v=qVYYHDKhqHQ&t=20s

Em 2013, o artista postou um vídeo em seu site mostrando um senhor em uma barraquinha vendendo supostamente obras falsificadas suas por apenas US$ 60 pelo Central Park, em Nova York. E mais uma vez Banksy brinca, acontece que as obras eram todas originais, avaliadas no mínimo por £ 20,000 (cerca de R$ 70 mil na época). O que fez algumas poucas pessoas surpreendentemente lucrarem sem saber.

Vídeo disponível no link:

https://www.youtube.com/watch?v=zX54DIpacNE&feature=emb_logo

Em 2020, com a nova realidade pandêmica, o artista homenageou os profissionais de saúde com uma obra na parede de um hospital, a pintura de um menino deixando de lado seus super heróis para brincar com uma boneca enfermeira viralizou na internet (Figura 5).

Figura 5: Game Changer, 2020.

O que torna Banksy e sua arte tão especial é a sua natureza política, irreverente, humorada e ácida, que desperta tanto o riso aos observadores, quanto reflexões sobre os dilemas e as contradições do mundo. Esse misto de anonimato e fama, arte e vandalismo, humor e protesto, formam sua grande propaganda, já que Banksy acima de tudo entende a mídia e a faz trabalhar também a seu favor. 



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
 
Conheça a arte e os movimentos de Banksy, o grafiteiro mais famoso do mundo. ISTOÉ, 2020. Disponível em: < https://istoe.com.br/conheca-a-arte-e-os-movimentos-de-banksy-o-grafiteiro-mais-famoso-do-mundo/>. Acesso em: 19 de outubro de 2020.
 
VALE, Bianca. Banksy e a arte da manipulação. OBVIOUS. Disponível em: <http://obviousmag.org/archives/2012/03/banksy_e_a_arte_da_manipulacao.html>. Acesso em: 19 de outubro de 2020.
 
ROSCHEL, Renato. Banksy, o artista anônimo mais conhecido do mundo. OBVIOUS. Disponível em:< http://obviousmag.org/archives/2010/03/banksy_o_artista_anonimo_mais_conhecido_do_mundo.html>. Acesso em: 20 de outubro de 2020.
 
Sem autor. Grafiteiro Banksy vende obras por 60 dólares no Central Park, em Nova York. NSC Total, 2013. Disponível em: < https://www.nsctotal.com.br/noticias/grafiteiro-banksy-vende-obras-por-60-dolares-no-central-park-em-nova-york>. Acesso em 22 de outubro de 2020.
 
BANKSY. Wall and Piece. Tradução de Rogério Durst. – Rio de Janeiro: Intríseca, 2012.