(por Camilla Tenorio)
Gê Viana (Santa Luzia, Maranhão, 1986). Fotógrafa e artista visual, nascida no povoado Centro do Dete, bairro de Santa Luzia, cidade a 300 km de São Luís. Teve sua formação básica no ensino público, ainda adolescente migrou com a família do interior para a capital, onde se graduou em Artes Visuais pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Atualmente vive e trabalha em São Luís (MA).
“Ouvi uma vez que, pra se achar, era preciso saber o local de nascimento de seus entes mais velhos. É bem difícil você montar sua história quando sua bisavó já não tá mais entre os outros… José Vitorino Ferreira Viana, o pai Zeca, e minha bisavó Torcata Francisca Viana, a mãe negra. Ambos nasceram na beira do Rio Parnaíba, na cidade de Buriti. Ao lado está a cidade Brejo, estamos no Maranhão, nesse território existiram os Anapurus, um povo denominado originalmente como Muypurás.” (Viana, 2020)
Gê Viana cresceu imersa em sua ancestralidade indígena e afro-brasileira. Ancestralidade que se faz presente em sua trajetória artística, tornando o fio condutor de todo o processo. Em suas questões identitárias, a artista investiga também questões de gênero e sexualidade humana. Instigada por acontecimentos do seu cotidiano em confronto com a cultura colonizadora hegemônica, a artista busca enfatizar a expressão artística decolonial através do uso de imagens e fotografias de arquivo para a criação de fotomontagens e intervenções em áreas urbanas e rurais.
(série) Atualizações traumáticas de Debret – Um jantar brasileiro, Gê Viana (2020), colagem digital. Releitura da obra Um jantar brasileiro, de Debret (1824).
“O meu trabalho se desenvolve no ato de fotografar corpos que assumem vários recortes com a fotomontagem, retornando um segundo corpo e gerando lambe-lambes em experimentos de intervenção urbana/rural. Venho na busca por uma expressão artística não linear, lanço-me sobre a pesquisa do corpo performático e dos corpos abjetos pela cultura colonizadora hegemônica e seus sistemas de arte e comunicação, (corpos marginalizados e invisibilizados)”. (Gê Viana, 2020).
Na série “Atualizações Traumáticas de Debret”, Gê Viana repensa o cotidiano das grandes metrópoles, guetos e povos tradicionais. No livro “Viagem pitoresca e histórica ao Brasil” (1824), Jean-Baptiste Debret reuniu registros aquareláveis, com cenas cotidianas do Brasil no início do século XIX, com uma visão de excentricidade que não estabelece ‘boas relações’ com os povos originários e escravizados. Ao modificar as imagens mais conhecidas de Debret, através de recorte e colagem digital, a artista constrói novas narrativas – (re)significações – que se sobrepõem à história de crueldade e sofrimento de corpos domesticados pelo colonizador. Segundo a artista: (a série) “As atualizações traumáticas de Debret é para exaltar a autoestima do nosso povo.” Os corpos pretos e indígenas que foram congelados nas obras de Debret são atualizados em cenas que normalizam a cultura e ancestralidade desses povos criando uma identificação com a população brasileira.
Referências
LEMOS, Beatriz. Ocupação Finalista 2020: Gê Viana. Disponível em https://www.premiopipa.com/2020/11/ocupacao-finalistas-2020-ge-viana/ Acesso: 24 set 2021.
VERAS, Luciana. Corpografias e performances. Revista Continente. Disponível em https://revistacontinente.com.br/edicoes/239/ge-viana. Acesso: 24 set 2021.
VIANA, Cassiano. Novos nomes da fotografia no Brasil – Gê Viana – São Luiz, Maranhão. Disponível em https://www.itaucultural.org.br/novos-nomes-fotografia-brasil-viana-luis. Acesso: 24 set 2021.
PIPA 2020 / Gê Viana Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=lehYKux87sI . Acesso: 24 set 2021.