(por Daniela Cassinelli)
Renata Felinto (São Paulo, 1978) é artista visual, pesquisadora e educadora.
É mestre e doutora em Artes Visuais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e especialista em Curadoria e Educação em Museus de Arte Contemporânea pela Universidade de São Paulo (USP). Trabalhou no campo da arte-educação em diversos museus e instituições de arte e cultura e coordenou o Núcleo de Educação do Museu Afro Brasil de 2007 a 2010. Atua como professora adjunta da Universidade Regional do Cariri, no Ceará, onde vive atualmente.
Como pesquisadora, tem como tema principal a arte produzida por mulheres e homens de ascendência negro-africana, assim como os diálogos ente a globalização e a história ancestral. É líder do Grupo de Pesquisa NZINGA – Novos Ziriguiduns (Inter)Nacionais Gerados na Arte, da Universidade Regional do Cariri. Como artista visual, relaciona arte, identidade e gênero, através de linguagens como o desenho, a pintura e a performance.
Na série de fotomontagens Re-existindo (2004-2009) (Imagem 1), um de seus primeiros trabalhos, Renata Felinto faz alterações em imagens do acervo pessoal fotográfico de famílias negras paulistanas, propondo repensar os ambientes de sociabilidade destas famílias.
Já na série Afro-Retratos (2010-2018) (Imagem 2), a artista pinta autorretratos incorporando estéticas de mulheres de outros povos e culturas, através de adereços e pinturas corporais, fazendo uma reflexão sobre as identidades das mulheres negras no Brasil, diante do contexto multicultural e globalizado em que vivemos. Ao misturar técnicas como desenho, pintura e colagem, Felinto recusa a tradição da pintura, reescrevendo uma história da arte que diverge daquela tradicionalmente estudada nas escolas e universidades.
Em seu trabalho Axexê da Negra ou o descanso das mulheres que mereciam serem amadas (2017) (Imagens 3 e 4), a artista com um vestido branco que traz à tona a época colonial, enterra imagens de mulheres negras que foram amas de leite no Brasil escravocrata, fazendo referência ao ritual do axexê, em que o iniciado no candomblé tem “enterrada” a sua espiritualidade. Ao incluir entre essas imagens uma reprodução do quadro “A Negra”, de Tarsila do Amaral, cujo modelo foi a ama de leite da pintora consagrada do modernismo, Felinto questiona o caráter racista e elitista da História da Arte no Brasil.
Resgatando memórias de mulheres negras apagadas da história hegemônica, Renata Felinto reverencia àquelas que a antecederam em sua exposição individual As que me habitam, no Centro Cultural São Paulo em 2019. A exposição é composta por trabalhos realizados entre 2017 e 2019, como a instalação As que me habitam (Imagem 5), que une as pinturas Ex-votos (2019) (Imagem 6), aquarelas de mulheres negras importantes para a história do Brasil que foram sistematicamente apagadas, a cartas de agradecimento e imagens em homenagem a mulheres pretas importantes na vida de pessoas de diversas regiões do país, enviadas através de uma chamada aberta. Dessa maneira, a artista cria um espaço de agradecimento e reconhecimento de mulheres negras, sejam elas mulheres comuns ou cujos feitos tiveram relevância na história nacional, destacando suas existências e resistências.
Outro trabalho que compõe a exposição é Santinhas – Oriki à Maria de Araújo (2019) (Imagem 7), em que a artista imprime uma oração (oriki) por ela escrita em agradecimento à Maria de Araújo e a todas as mulheres negras que a antecederam (Imagem 7), cujos exemplares ficaram disponíveis aos visitantes da exposição.
Além da exposição As que me habitam, Renata Felinto participou, por exemplo, da exposição Diálogos Ausentes, no Itaú Cultural/SP (2016) e no Galpão Bela Maré/RJ (2017), Negros Indícios, na Caixa Cultural/SP (2017), Histórias Afro-Atlânticas, no MASP e Instituto Tomie Ohtake (2018) e Construção, na Galeria Mendes Wood DM/SP (2020). Também foi vencedora do Prêmio Pipa de Arte Contemporânea em 2020 e do Prêmio Select na categoria Arapuru, no mesmo ano.
Em vídeo para a série de conversas Diálogos Ausentes, do Itaú Cultural, a artista
fala de sua vivência na zona leste de São Paulo e de como entrou em contato com o racismo estrutural. Discute questões de ancestralidade, trata de suas séries Re-Existindo e Afro Retratos e comenta os estereótipos presentes no modernismo. Defende ainda uma revolução nas artes visuais, seja com o protagonismo de artistas negros, seja com a inclusão de novos tópicos no currículo escolar e nos livros didáticos (texto informativo do vídeo no YouTube).
Referências
Site da artista: https://renatafelinto.com/ Acesso: 13 de agosto de 2021.
Instagram: @fenix_negra_purpurinada Acesso: 13 de agosto de 2021.
Arte pela reconfiguração social. Disponível em https://premio-select.com.br/arte-pela-reconfiguracao-social/ Acesso: 13 de agosto de 2021.
RENATA Felinto. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa637835/renata-felinto Acesso: 13 de agosto de 2021.
Renata Felinto – Prêmio PIPA. Disponível em https://www.premiopipa.com/renata-felinto/ Acesso: 13 de agosto de 2021.
Renata Felinto – Diálogos Ausentes (2016). Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=wUJtYSrpAV8 Acesso: 13 de agosto de 2021.