(por Giselle Silva)
nasceu em Cabo Frio, na Região dos Lagos do estado do Rio de Janeiro, em 1986. É morador do Méier, na zona norte do Rio e vive na cidade há uns 20 anos.
É graduando em filosofia pela UFRJ, poeta, artista visual, músico e educador.
Publicou dois livros de poesias infantis: Roupa de Camaleão, em 2018, pela Zit Editora, e Caraminholas – Poesias do fundo da cachola, em 2012, pela Editora Multifoco.
Filho de uma família de músicos, a sonoridade e a palavra escrita e escutada permeiam suas obras sempre atravessadas por sua condição de homem negro. Trabalha com diversas linguagens e materiais, como performance, pintura e objetos.
Educador de espaços de cultura desde 2013, André Vargas tem uma produção que apresenta a educação em um sentido amplo, contestando as práticas coloniais e evocando sua ancestralidade.
Em “Todo chão de rua é um quadro negro”, de 2020 (fig. 2), André Vargas une performance e escrita em uma ação efêmera que acontece no espaço do chão da rua, onde o artista escreve com giz de quadro negro a frase que intitula o trabalho. A ação dessa fotografia aconteceu na frente do Parque Lage, lugar que abriga a Escola de Artes Visuais, considerada um dos espaços de formação artística mais importantes do Brasil.
Confira no Instagram do artista o registro da ação em outros espaços da cidade, inclusive de anos anteriores.
André Vargas (@andrevargassantos) • Fotos e vídeos do Instagram
Outra obra que merece destaque é “Sorte”, de 2019 (fig. 3), onde Vargas traz um jogo muito interessante entre o título da obra e o objeto utilizado – a ferradura de cavalo – para compor a palavra “nunca” a partir das diversas disposições deste objeto, que é usado justamente como um amuleto de sorte.
Ao falar sobre sua obra, André Vargas aponta o jogo entre sorte e azar, sempre e nunca, e apresenta a sentença: “O nunca está para o azar, assim como o sorte está para o sempre”. Podemos assim concluir que essa é uma obra inversamente proporcional?
A obra a seguir (fig. 4) é de 2018 e tem por título “ESCR VO”, grafada assim, com esse espaço entre as letras, pintadas em vermelho sobre o tecido de algodão cru. O espaço vazio da letra que falta na grafia, coloca o espectador da obra diante uma escolha ou de uma possibilidade que impera na mente à primeira vista diante da imagem? A escolha do vermelho pode nos trazer diferentes significados, pois vai depender de qual vogal utilizamos para completar a palavra, uma vez que ela é praticamente indizível sem esse acréscimo que apenas o observador pode fazer. ESCREVO? ESCRAVO? Por que escrevo de vermelho? Por que escravo de vermelho?
Sem dúvida, é uma característica marcante nos trabalhos do artista a quantidade de perguntas que suas obras evocam.
A Série “Trapos”, de 2019 (fig. 5), por exemplo, é uma junção de sobras de outros trabalhos do artista, (inclusive fruto de performances, como “ESCREVO”, seu primeiro trabalho exposto, em 2018, no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica). Sobre “Trapos”, André Vargas fala da tecitura de uma genealogia composta de frases sublinhadas de suas histórias de família, contadas principalmente pela sua avó, que fala inclusive de uma época de cativeiro que não vivenciou, mas que também escutava dos seus mais velhos. A essas frases o artista chama de uma “fortuna” que ele guarda. Outras frases ele inventa para preencher as lacunas dessas histórias.
Lendo essas frases que aparecem na obra, não temos uma narrativa completa, mas muitas partes de um quebra-cabeça formado de sonoridades, identidades e muitos significados possíveis.
(Para ouvir sobre essa e outras obras do artista, assista a entrevista cedida ao Galpão Aplauso Galpão Aplauso na Web com o artista André Vargas – YouTube)
“Todo altar é uma caixa de suspiros”, de 2020 (fig. 6), é uma pintura de guache e acrílica “dendi caixa de suspiros”, como descreve o autor em sua página no Instagram. No interior da caixa, visível ao observador, temos três figuras humanas vestidas iguais, trazendo nas mãos um ramo de folhas e um outro objeto amarelo. Percebe-se uma aura religiosa, conferida inclusive pelo fundo azul infinito. A descrição do produto na caixa evidencia como a obra parte justamente da poesia que o artista encontra entre o nome e a qualidade do doce (suspiro pequeno) e sua relação com a noção de altar.
Acompanhe o trabalho de André Vargas nas redes sociais. Por lá você vai encontrar muito mais. Vale a pena se inspirar com suas poesias visuais e ações estético-políticas.
Participação em exposições
Africanizze Performática, Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Setembro de 2018.
Renovação Carismática, Caixa Preta, Fevereiro de 2019.
Corpos-Cidades, Espaço Pence, Maio de 2019
Tipo Coletivo, Tipografia, Maio de 2019
O Grito, PENCE, Setembro de 2019
Tamo Aí, Galeria da Passagem (UERJ), Outubro de 2019
Patifaria, Galeria Azul (UFRJ), Outubro de 2019
Casa Povera, Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, Janeiro de 2020
Rua!, Museu de Arte do Rio, Janeiro de 2020
Semba/Samba: corpos e atravessamentos, Museu do Samba, 2021.
Referências:
Entrevista André Vargas – Revista Desvio
André Vargas (@andrevargassantos) • Fotos e vídeos do Instagram
André Vargas, l'Espérance c'est une douleur - Marguerite La Rochelaise
[…] l’actualité d’André Vargas sur son site et […]